Meus amigos ateus precisam acordar para a realidade. Frente a inesperada (inesperada para quem?) importância que o dito voto religioso assumiu na presente eleição, sua única reação é a de fazer rantings (qual a tradução de ranting? resmungos?) sobre a mistura entre política e religião, como se isso não fosse novidade desde Moisés e o Faraó…
Hélio Schwartsman, a quem muito prezo, tem renunciado a alguns conhecimentos básicos de sociologia em prol de surfar no modismo do neoateísmo (que é uma reação ao fundamentalismo, que por sua vez é uma reação à teologia liberal do século XIX). Explico.
Acho que desde Marx e a decadência dos Hegelianos de Esquerda (que eram os neoateus do século XIX) sabemos que a religião dominante (mas não as religiões marginais) é fruto ideologia econômica dominante, e não vice-versa. Ou seja, o neopentecostalismo da Teologia da Prosperidade, com sua ênfase no empreendedorismo dos fiés, é apenas fruto do neoliberalismo dominante da década de 1990 até a crise mundial. É falso dizer que essas neoigrejas “exploram seus fiéis”, é mais acertado dizer que os fiés são sócios que pagam 10% de suas rendas, e que portanto o que interessa a essas neoigrejas é que a renda deles aumente, e é por isso que apóiam o Lula (Edir Macedo e a Renascer) e dão cursos do SEBRAE para seus fiéis.., etc.
O problema do neoateísmo é que ele é muito pobre em seus argumentos quando comparado com o ateísmo clássico, esse sim intelectualmente respeitável e não panfletário. Se você quer defender uma boa causa (por exemplo, combater a péssima influência política da direita religiosa ou defender os direitos civis dos ateus), o ponto de partida é não usar argumentos falaciosos facilmente refutáveis. Exemplo: ficar falando que as religiões e os religiosos EM GERAL (ou seja, todos, incluindo Gandhi, Martin Luther King, Madre Teresa, Leonardo Boff, Frei Betto e Marina Silva!) SEMPRE levam à Inquisição (que foi um fenômeno social historicamente particular de uma religião em particular. Mais que isso, se o neoateu é cientificista (nem todos os ateus são, muitos são anticientíficos, como Nietszche), o argumento fica pior ainda porque a Ciência e a Tecnologia nela inspirada têm telhado de vidro. No mesmo exemplo, as bombas de Hiroshima e Nagasaki mataram mais pessoas (especialmente inocentes como crianças, mulheres, idosos) em um dia do que a Inquisição matou em 300 anos de história (ou seja, cerca de 100 mil pessoas).
Além do mais, não se deveria imputar aos católicos atuais (por exemplo, ao intelectual católico Reinaldo José Lopes, editor de ciências da Folha e colega do Hélio, e talvez o melhor blogueiro de ciências da blogosfera científica brasileira!) as faltas dos católicos ibéricos e italianos da Renascença e Alta Idade Média. Seria como imputar aos neoateus as faltas dos ateus Stalin e Mao Tse Tung, isso seria uma falácia grave.
O pessoal realmente precisa acordar para a realidade histórica, em vez de ficar imaginando em sua torre de marfim de que vivemos na Era das Luzes da Ciência – nós não vivemos mais na era tecnocrática pelo menos desde a década de 60, com a Contracultura! E lembrar que a Era das Luzes não foi tão iluminada assim (lembram do Terror da Revolução Francesa?) e a Era das Trevas não foi tão tenebrosa assim (afinal, foi a Era das Catedrais, as quais prezamos e preservamos até hoje).
Precisamos parar de wishful thinking: a Religião não vai desaparecer, vai apenas mudar de forma, se adaptar. O ateísmo não vai vencer, vai apenas sobreviver (como sempre o fez na história mundial), o número de ateus não está crescendo (em termos proporcionais), o futuro pertence a quem tiver mais filhos, ou seja, aos muçulmanos, aos evangélicos e católicos conservadores que não fazem controle de natalidade. Isso se chama, em Biologia, fitness: ter o maior número de filhos férteis!
Assim, Hélio comete uma grande falácia ao sugerir em sua coluna (e ele sabe que a está comentendo, pois avisa o leitor disso) que a correlação inversa entre PIB per capita e religiosidade implica que a religião produz pobreza ou impede a riqueza (que raio de manchete é essa, Hélio?).
Oras, será que Hélio esqueceu do maior livros do século XX, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, de Weber? E esqueceu que Marx diria que Religião é um reflexo, um epifenômeno sem força causal, e que as verdadeiras forças são sócio-econômicas? Ou seja, para que sugerir uma falácia se sabemos de antemão que ela é falsa? Precisamos de uma argumentação neoatéia de melhor qualidade, não do panfletismo de Dawkins e Cia, que não sabe distinguir um protestante histórico de um evangélico, e muito menos um neopentecostal neoliberal como Edir Macedo (que é a favor do aborto!) e um pentecostal conservador, ou um pentecostal de esquerda como Marina de um católico de extrema direita como Alckmin.
Pessoal, acordem! Desde a década de 80 os sociólogos da religião estão falando que o processo de secularização iniciado no século XIX cessou e se inverteu, que a revolução iraniana explicitou isso, que as utopias seculares morreram (tanto a Nova Cidade da Ciência liberal quanto o Socialismo Laico).
Acordem! Usem o conhecimento acumulado sobre a Religião pela Antropologia, Sociologia, etc. Leiam Marx (melhor ainda, Engels!), Durkhein e Weber, não Dawkins! Leiam Peter Berger! Leiam um pouco de Teologia Liberal, Teologia Feminista e Teologia da Libertação, antes de atacar a Teologia! Pelo amor de Deus!
Aborto? Melhor nem falar…
O discurso de José Serra corria bem no encontro do PSDB, na tarde desta quarta-feira, em Brasília. Até Serra abordar a questão do aborto, para dizer que não era um candidato com “duas caras”. Serra se referia, obviamente, à sua concorrente Dilma Rousseff (PT). A impressão de que Dilma seria favorável à legalização total do aborto é apontada, pelo PT e por pesquisas, como uma das causas da sua perda de votos na reta final do primeiro turno.
Mas, ao tocar no assunto, Serra errou. “Todo mundo sabe que eu sou a favor do aborto… Eu já falei isso”. A platéia congelou. Serra percebeu o ato falho e corrigiu: “Quer dizer… Todo mundo sabe que eu sou contra o aborto. Eu já falei isso. Eu não tenho duas caras”. A platéia respirou aliviada. Mas ficou claro quão espinhoso e escorregadio é o tema nesta campanha eleitoral.
Berger’s influential sociological works include:
- The Noise of Solemn Assemblies (1961)
- Invitation to Sociology: A Humanistic Perspective (1963)
- The Social Construction of Reality: A Treatise in the Sociology of Knowledge (1966) with Thomas Luckmann, ISBN 0-385-05898-5
- The Sacred Canopy: Elements of a Sociological Theory of Religion (1967). Anchor Books 1990 paperback: ISBN 0-385-07305-4
- A Rumor of Angels: Modern Society and the Rediscovery of the Supernatural (1969). Anchor Books (in print): ISBN 0-385-06630-9, 1990 expanded edition (now out of print): ISBN 0-385-41592-3
More recently he has written mainly on the sociology of religion and capitalism:
- The Homeless Mind: Modernization and Consciousness (1973) with Brigitte Berger and Hansfried Kellner. Random House, ISBN 0394484223
- Pyramids of Sacrifice: Political Ethics and Social Change (1974)
- The Heretical Imperative: Contemporary Possibilities of Religious Affirmation (1979)
- The Other Side of God: A Polarity in World Religions (editor, 1981). ISBN 0-385-17424-1
- The War Over the Family: Capturing the Middle Ground (1983) with Brigitte Berger
- The Capitalist Spirit: Toward a Religious Ethic of Wealth Creation (editor, 1990)
- A Far Glory: The Quest for Faith in an Age of Credulity (1992)
- Redeeming Laughter: The Comic Dimension of Human Experience (1997), ISBN 3110155621
- The Limits of Social Cohesion: Conflict and Mediation in Pluralist Societies: A Report of the Bertelsmann Foundation to the Club of Rome (1998)
- The Desecularization of the World: Resurgent Religion and World Politics (editor, et al., 1999). Wm. B. Eerdmans Publishing, ISBN 0-8028-4691-2
- Peter Berger and the Study of Religion (edited by Linda Woodhead et al., 2001; includes a Postscript by Berger)
- Many Globalizations: Cultural Diversity in the Contemporary World (2002) with Samuel P. Huntington. Oxford University Press. ISBN 978-0195151466
- Questions of Faith: A Skeptical Affirmation of Christianity (2003). Blackwell Publishing, ISBN 1-4051-0848-7
- In Praise of Doubt: How to Have Convictions Without Becoming a Fanatic (2009) with Anton Zijderveld. HarperOne. ISBN 978-0061778162
- “Four Faces of Global Culture” (The National Interest, Fall 1997).
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